Era uma típica manhã de inverno quando os pássaros cantavam anunciando o alvorecer de um novo dia. Era só mais um dia na vida provinciana de Campinas.
Ao redor da região central , chegando ao meio do ano de 1844, Campinas ainda não possuía iluminação pública, nem trens ou bondes.
As chácaras, que dominavam a paisagem, ainda preservavam o ar bucólico de uma cidade que viria um dia a ser uma das metrópoles mais importantes do Brasil.
Havia criação de porcos onde hoje existem estacionamentos de carros e pessoas caminhando com latas de água e de dejetos nos ombros em busca das fontes de água da cidade, fosse para abastecer a casa ou para despejar os restos das latrinas.
É neste cenário em que vivia a família do conhecido Maneco Músico, o Manoel Gomes, pai de Antonio Carlos Gomes, o então menino de pouco menos de 10 anos de idade que se tornaria o maior músico da época no continente americano.
A casa onde nosso grande artista nasceu, na rua Regente Feijó, já não existe mais, em seu lugar foi erguido um prédio que preservou um pedaço de nossa história colocando na parede uma placa de bronze indicando que ali um dia nascera Antonio Carlos Gomes.
Desta casa então, até o largo Jurumbeval, onde hoje se acha instalado o Terminal Mercado, era uma pequena caminhada e foi ali que o corpo de Fabiana Maria Cardoso Gomes, a jovem mãe do maestro contando ainda com 28 anos de idade foi encontrado marcado por um tiro e várias punhaladas.
Era uma mulher negra, mulata como se dizia na época.
Muito bonita, teria sido pega no flagrante de uma ação escandalosa e adúltera e por isso Manoel Gomes, seu marido a teria assassinado com tamanha crueldade.
Ele, que era então regente do coro, ou como se dizia na época, mestre de capela da Igreja do Carmo claro, negou tudo.
O tal Largo do Jurumbeval não era uma praça bonita, com iluminação pública que garantisse segurança para uma caminhada noturna, antes era uma região escura e vazia de gente durante a noite. O crime ocorreu em 1844 e a iluminação pública de Campinas, só foi instalada em 1872.
Então, a pergunta óbvia ecoou por toda a cidade:
O que estaria fazendo uma moça de família ali, naquele lugar àquela hora da noite?
Como o corpo foi encontrado de manhã, a suposiçao é de que o crime ocorrera na calada da noite.
Seu corpo fora encontrado logo nas primeiras horas da manhã.
Teria sido arrastada até ali por um amante que a seduziu enquanto o marido não estava em casa?
Para além da morte cruel, coube-lhe também a desonra em sua memória de mãe e esposa correta.
Inúmeras hipóteses se levantaram desde aquele fatídico dia do mês de Julho de 1844.
Há quem diga ainda que um homem negro, escravo alforriado recém chegado de São Paulo, encontrado com moedas de ouro nos bolsos seria um ladrão que, pego no roubo, terminou sua obra praticando latrocínio.
Outras hipóteses foram levantadas ao longo dos anos, mas o caso jamasi foi esclarecido.
Na época, já havia em Campinas a figura do delegado, do juíz e força polilcial, mas não havia ainda a imprensa com suas câmeras fotográficas e os repórteres interessados em fazer perguntas incisivas para qualquer possível suspeito.
Seu marido, Maneco músico acabou provando na justiça que no momento do crime estava jogando cartas em um estabelecimeneto na rua Luzitana, na época chamada de rua de baixo.
Muitos anos depois sua neta Ítala, já adulta estabelece uma outra possibilidade. Segundo ela, Nhá Biana, a Fabiana teria sofrido um crime de latrocínio, pois ladrões teriam entrado em sua casa na noite daquele 25 de Julho para roubar instrumentos musicais de seu marido , que não se encontrava em casa.
A discussão veio e desapareceu diversas vezes ao longo da história em busca de um culpado para o terrível assassinato que marcou a vida do nosso querido maestro iniciando um ciclo de sofrimentos e perdas que ele experimentou por toda a vida.
Se há uma palavra para descrever as circunstâncias deste grande e terrível crime ocorrido em nossa cidade, a palavra seguramente é “Mistério.”