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As três vezes que a “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias virou música

“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”. Você sabia que o poema “Canção do Exílio” já virou música? E não foi apenas uma vez! O poeta Gonçalves Dias tem três parceiros diferentes de composição, que musicaram uma das maiores obras da literatura brasileira.

Tudo sobre Gonçalves Dias

Gonçalves Dias nasceu em 10 de agosto de 1823, em Caxias, no Maranhão. Seu pai era um comerciante português e sua mãe tinha ascendência indígena e africana.

O poeta viveu em um tempo de grande efervescência literária e nacional: formado em Direito na Universidade de Coimbra, em Portugal, encontrou ali o caldeirão do romantismo europeu: Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Feliciano de Castilho eram vozes que conversavam diretamente com as suas próprias aspirações literárias. 

Ao retornar ao Brasil em 1846, instalou-se no Rio de Janeiro como professor de história e latim, além de ter atuado como jornalista, contribuindo para diversos periódicos, como: Jornal do Commercio, Gazeta Oficial e Correio da Tarde, publicando crônicas, folhetins teatrais e crítica literária.

Em 1849, fundou com Manuel de Araújo Porto-Alegre e Joaquim Manuel de Macedo a revista “Guanabara”, que divulgava o movimento romântico da época. Em 1851 voltou a São Luís do Maranhão, a pedido do governo para estudar o problema da instrução pública no estado.

Foi nomeado oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros e passou quatro anos na Europa realizando pesquisas em prol da educação nacional. 

Sua obra, marcada por um forte caráter indianista (ao lado de José de Alencar) e nacionalista, idealiza a figura indígena, a natureza brasileira, o amor e a liberdade.

Infelizmente, uma morte trágica encurtou uma vida que poderia ter produzido ainda mais para a nossa literatura: Gonçalves Dias foi a única vítima do naufrágio do navio Ville de Boulogne na costa brasileira, em 03 de novembro de 1864, quando ele tinha apenas 41 anos. 

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Gonçalves Dias | Imagem: Agência Brasil / Reprodução

A “Canção do Exílio”

Foi justamente quando estava estudando em Portugal, que, em 1843, Gonçalves Dias escreveu o poema “Canção do Exílio”.  Em uma pátria  distante da sua, ele fala com saudade e amor sobre o Brasil, exaltando a paisagem tropical e projetando um ideal de brasilidade que ecoa pelos séculos. 

“Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Em cismar – sozinho – à noite –

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras;

Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar – sozinho – à noite –

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que eu desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.”

O poema integra o livro “Primeiros Cantos”, de 1846 e tornou-se referência do romantismo e da construção de identidade nacional brasileira. 

A métrica simples, a repetição estilística e a valorização dos símbolos nacionais  conferem a “Canção do Exílio” uma musicalidade intrínseca.

Por contar com esta estrutura quase cantável  e pelo vigor simbólico que carrega, “Canção do Exílio” serviu de base para três releituras diferentes em versões musicais do poema ao longo do tempo.

Vamos conhecer cada uma delas?

1 – Sérgio Britto

A versão de Sérgio Britto, revisita o poema e seu legado em um momento mais contemporâneo: ela foi lançada em 2013, no álbum solo do integrante dos Titãs: “Purabossanova”.

2 – Pena Branca e Xavantinho

A versão de “Canção do Exílio” gravada pelo duo caipira Pena Branca e Xavantinho foi musicada por André Luis Oliveira e registrada em 1989 no álbum “A Trilha Sonora África Brasil”, produzido também por André Luis e com a participação de outros artistas como Djavan, Maria BethâniaeSandra Sá.

Esta versão tem uma pegada mais  conectada à tradição musical brasileira e ao sotaque sertanejo.

3 – Paulo Diniz

A versão do cantor e compositor pernambucano Paulo Dinizde “Canção do Exílio” é a mais antiga, lançada em 1984, no seu álbum que levou o mesmo nome do poema.

Aqui, “Canção do Exílio” ganha pela primeira vez uma adaptação musical para o cenário da música popular brasileira, pelas mãos do também compositor do sucesso “Quero Voltar Pra Bahia”.

Cada uma dessas versões abre uma nova camada de escuta, reinventada na voz de cada intérprete. Mas, em todas elas, o poema original permanece no centro: sua saudade da pátria, seu canto em tom de exílio, sua exaltação da natureza brasileira.

Ao atravessar poesia, música e gerações, “Canção do Exílio” reafirma a potência de Gonçalves Dias como voz inaugural de uma literatura que queria se autodefinir e reafirmar a brasilidade.

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